
Mostra Tridimensional Entrelinhas Entreformas
Entrelinhas entreformas, foi assim que trabalhamos a tridimensionalidade com o 1º período do Curso de Bacharelado em Artes Visuais.
Durante o semestre, estudos e compreensões de conceitos e fundamentos da tridimensionalidade foram colocados em prática durante os exercícios realizados no ateliê. A linha em diferentes materiais foi trabalhada, buscamos o entendimento imagético e matérico durante as construções das propostas. Em seguida, com o gesso e o papel, exploramos outras possibilidades de construção tridimensional, formas e comportamentos de materiais.
Priorizamos a experimentação, como algo que dá sustentação e permite uma maior segurança para o artista que se inicia no universo da arte, pois a compreendemos como formatividade a partir do conceito de Pareyson, “um tal fazer, que enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer... Nela concebe-se executando, projeta-se fazendo, encontra-se a regra operando”. (PAREYSON, 2001, p.26).
Com base nesse primeiro projeto com o enfoque nas linhas e suas manifestações obtivemos uma série de perspectivas em relação ao entremeado desse elemento aos processos artísticos a eles vinculados. As expectativas e necessidades de cada um dos artistas desembocam no traçado proposto dentro das suas realizações pessoais. Os experimentos culminaram nas obras de Caroline Front'Ana nas suas "Paixões que atravessam" que desenvolve reflexões a respeito dos sentimentos; Débora Letticya com seus "Alinhavamentos fio sobre fio" e a ligação com a cultura das Moiras na mitologia grega; Daniel Oliveira com "Guerra dos Reis" onde os movimentos do xadrez são projetados numa visão pós guerra; Giulianna lançando luz nos "Rostos versáteis" e as peculiaridades das formas humanas frente a maleabilidade do material; Kei Jardine e seu trabalho que recai sobre as possibilidades humanas nas suas próprias reflexões; Iassuê Kuanna em “Ar Memoir” com o respirar dentro das suas lembranças; Maria Luiza trazendo " Leve - Como um pássaro" dialogando com o peso do material e a forma leve do voar e Nathália Bastos com " De Qualquer Lugar " enfocando na linha em sua expressão mais simples de forma e cor.
Contudo, o trabalho com gesso acabou por lançar um foco sobre outros conhecimentos necessários para lidar com o material, que para muitos foi o primeiro contato. Enquanto que as obras com linhas acabam demostrando uma fluidez maior dos materiais escolhidos, a rigidez do gesso exige novas dificuldades no diálogo do artista com seu objeto de trabalho.
Nisso podemos observar o desenvolvimento das propostas de Ana Crizu nos "Em(quadros)" no transcender das suas questões para além dos moldes da matéria; Carlos Henrique no "Vazio expressivo" que culmina na demonstração mais íntima dos seus porquês pessoais; Luiz Gustavo tratando de suas respectivas experiências com o material que acabam produzindo formas; Arthur Monteiro e Nicolas Escuro se concentraram nos procedimentos de produção e feitura sobre a matéria.
Entrelinhas entreformas é uma demonstração dos segmentos na construção do fazer e do entender artístico, compreendendo os processos com os mais diversos materiais bem como isso é exposto de fronte ao público, de maneira que congrega as partes fundamentais na construção do discente do curso enquanto artista e produtor de arte. As questões muitas vezes expostas demonstram a necessidade de cada um dos envolvidos posto em forma e em traço, emanando para além da materialidade o contato entre a obra e quem a contempla, e nessa diversidade de argumentos que todos se encontram na singularidade das experiências vivenciadas dentro do tridimensional.
Texto: Emmanuel Felipe e Eliane Chaud
Imagens: Yulle Bittencourt