Matizes da Terra: o solo sob nossos pés
A exposição que é baseada na relação entre arte, ciência e solo, poderá ser visitada até dia 28/06
A exposição Matizes da Terra: o solo sob nossos pés, inaugurada no dia 05 de junho de 2023, na Biblioteca Central da Universidade Federal de Goiás (BC/UFG), é um projeto de extensão que se configura como iniciativa de multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na perspectiva de integrar diferentes áreas do conhecimento, que se cruzam na possibilidade do fazer artístico e como proposta pedagógica.
A exposição, que tem o solo como agente aglutinador de pessoas, apresenta ao público da UFG e de Goiânia um conjunto de materiais como pinturas produzidas com tinta de terra por estudantes e professores de diferentes cursos da UFG (Agronomia, Ecologia, Geografia, Ciências Ambientais, Artes Visuais, etc.); coleções de perfis didáticos de solos organizados em recipientes de vidro, obras com tinta de terra e bordado sobre tecido; maleta de solos, cerâmica e diversos textos e imagens sobre os solos do Brasil. Esse conjunto de objetos foi pensado com exclusividade para a exposição montada no saguão da BC no Campus Samambaia.
A expografia foi elaborada para melhor adequar a exposição ao espaço da biblioteca, facilitando a visita e buscando ampliar a interação com as pessoas. No espaço, cavaletes e mesas foram montados para abrigar os diferentes objetos que são resultantes de coletas e pesquisas científicas, mas que ao serem mostrados ao público, podem ser observados pelo viés artístico, uma vez que possuem um forte potencial de fruição estética, formal e material. Além disso, destaca-se a capacidade desse conjunto de objetos em instigar futuras investigações com teor interdisciplinar entre pesquisadores, docentes e discentes da UFG, podendo resultar em novas abordagens e procedimentos de pesquisas, sendo estas caracterizadas pelo trânsito entre arte e ciência.
Na exposição há também espaço para as pessoas interagirem com solos, através de tintas de terra disponibilizadas que podem ser usadas para realização de pinturas em tecido e papel, e por meio da exploração e percepção tátil de solos depositados em recipientes opacos. Nesse sentido, acredita-se que o espaço expositivo pode se configurar como um lugar de encontro de múltiplos saberes, de contemplação da arte, de instrumento educativo e sensibilizador tanto para arte como para temas latentes dentro do campo científico, tais como o solo.
A geógrafa, pesquisadora e professora do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA/UFG), Andrelisa Jesus, é quem coordena o projeto de extensão que busca fomentar a difusão de arte e ciência com foco no solo, sobre variadas perspectivas que valorizem suas funções ecossistêmicas, importantes para manutenção da vida no planeta. Para a Andrelisa
“o modo de vida urbano foi afastando a pessoas da relação mais próxima com o solo. Hoje em dia o solo acaba sempre ganhando uma conotação negativa na mídia, seja para tratar de erosões e escorregamentos no período chuvoso, seja para falar da poeira no período seco."
A professora, que estuda erosões do solo desde sua graduação em 2002, considera crucial que a sociedade seja sensibilizada para a importância da conservação dos solos e vê na arte uma ferramenta poderosa para essa sensibilização e mediação do reencontro das pessoas com solos. Segundo a professora "o potencial do solo como material artístico pode ser ricamente utilizado na prevenção de problemas ambientais que afetam diretamente o solo", acrescenta.
O artista Glayson Arcanjo, que é pesquisador e professor da FAV, participante como vice-coordenador do projeto, também ressalta que um dos seus maiores desejos era partilhar conhecimentos através do encontro de pesquisadores docentes e discentes de áreas distintas na UFG. Ele acredita que a exposição Matizes da Terra é uma iniciativa singular, pois “estamos trabalhando conjuntamente para criar um espaço muito frutífero de trocas e parcerias, olhando para os solos e buscando desenvolver processos artísticos através da criação de pinturas, desenhos, cerâmicas e gravuras produzidas com a terra”.
O professor, que conheceu Andrelisa em 2019, ficou admirado com os solos coletados e organizados por ela em seu laboratório, e pela paixão que a pesquisadora tem pelo assunto. Glayson, que desde 2007, vinha pesquisando assuntos relacionados à arte e território, coletando objetos em caminhadas pela cidade e desenvolvendo desenhos relacionados à paisagem sob a ótica das ruínas, logo se viu instigado a
“olhar para o solo nessa perspectiva temporal ancestral e para além do tempo de vida humana. Ao me dar conta do quão curta é nossa passagem por este mundo, atentei para nossa responsabilidade ambiental, social e pedagógica para lidar de modo mais cuidadoso com a terra, reconhecendo os povos, as plantas e outros seres e organismos que vivem e viveram aqui. E é fundamental que parta das pessoas, e principalmente de nós professores e artistas, a incorporação dessas questões à sala de aula, ao fazer artístico e à arte”, revela o pesquisador.
A comunidade da FAV também faz parte da exposição. São favianes docentes, como a professora de gravura Adriana Mendonça e as favianes discentes Tulassy Pinheiro, Gleice Sousa e Mario Augusto, ambos do curso de Artes Visuais Bacharelado.
Para a estudante Tulassy, que também está na organização da exposição, este projeto se apresentou como possibilidade para que ela e outras pessoas, que não tinham ideia do que era possível fazer a respeito dos solos, viessem a conhecer esse potencial. Encantada com a exposição e animada com o projeto, a estudante relata que seu desejo é seguir pesquisando sobre os solos. A discente relata que
"o projeto é muito potente pela integração entre áreas diferentes no meio acadêmico, e apareceu como um presente, para unir arte e outras coisas de meu interesse, como os pigmentos naturais, escultura, modelagem e outras técnicas usadas nas artes, favorecendo trocas e diálogos com todas as pessoas que estão envolvidas e tem um olhar mais aprofundado para as questões sociais, ambientais e educacionais, unindo arte e ciência, o que deixa este projeto ainda mais maravilhoso”.
Não por acaso, as imagens produzidas para a exposição colocam em evidência os animais do cerrado, como lobo guará, tamanduá bandeira, corujas, as árvores tortas e outras paisagens típicas do bioma, sendo estas, algumas das inspirações para a elaboração das pinturas, desenhos, bordados e gravuras. As obras se utilizam de diferentes procedimentos, mas todas foram feitas com solos.
As pinturas, foram desenvolvidas pelos estudantes Eliana Liah Ivo, Sofia Villas Bôas, Gleici Sousa, Mário Augusto Silva, Isabella Magalhães, Marcos Mesquita Soares, Maria Augusto Gomes, e iniciadas em uma oficina ministrada para eles, durante o projeto. A exposição conta ainda com pinturas e bordados da professora Andrelisa, gravuras da professora Adriana e pinturas do professor Glayson, além das pesquisas em cerâmica da artista Maria Luisa Al Rubaie, fotografias de perfis de solos feitas por Sérgio Hideiti Shimizu e uma maleta de solos do professor Guilherme Taitson.
Para quem quiser visitar, a exposição fica aberta ao público até dia 28 de junho de 2023, na Biblioteca Central da UFG, Campus Samambaia.
Serviço:
Exposição Matizes da Terra: o solo sob nossos pés.
Visitação: de 05 a 28 de junho.
Horário: Segunda a sexta das 7h15 às 22h
Local: Biblioteca Central UFG - Campus Samambaia
Entrada gratuita.
Organização:
Profa. Andrelisa Jesus (IESA)
Prof. Glayson Arcanjo (FAV)
Tulassy Pinheiro (Discente FAV)
Artistas e pesquisadores participantes:
Eliana Liah Ivo, Sofia Villas Bôas, Gleici Sousa, Mario Augusto da Silva, Isabella Magalhães, Marcos Mesquita Soares, Maria Augusto Gomes, Adriana Mendonça, Glayson Arcanjo, Andrelisa Jesus, Tulassy, Maria Luiza Al Rubaie, Sérgio Hideiti Shimizu e Guilherme Taitson.
Fotografias da abertura: Sabrina Schreiner
Fonte: Glayson Arcanjo e Andrelisa Jesus com diagramação de Renato Cirino | Comunica FAV
Categorias: Notícias FAV exposição Matizes da Terra