Instalação - Para aquilo que se tece
A exposição do Prof. Elinaldo Meira com curadoria do Prof. Paulo Duarte-Feitoza abre dia 17/10 na Vila Cultural Cora Coralina
Duas camas de solteiro, próximas, conectadas por linhas com densidades que variam do algodão ao cabo de aço, dispostas na horizontal e na vertical, tal qual urdume e trama de um tear.
Duas cadeiras de madeira, cada uma sustentando metades de um instrumento de cordas, de uma viola ou de um violão. Numa das cadeiras está o bojo e, em outra, abriga o braço do instrumento musical. Na parede, duas telas em paralelo, estampando abstratas paisagens horizontais. Uma parede vermelha, muitos fios, mobiliário, telas, na sala quadrada Sebastião Barbosa.
Esse é o retrato descritivo da exposição “Para aquilo que se tece”, do professor e artista visual Elinaldo Meira, a ser inaugurada no próximo dia 17 de outubro, na Vila Cultural Cora Coralina, em Goiânia/GO.
Em essência, o público estará diante de uma instalação que provoca a sensação de que somos aquilo que conseguimos ser. Retrato das nossas relações interpessoais que, na palavra do artista, se constrói também a partir do despertar das dores do afeto.
“Houve um começo para pensar esta exposição. E no começo foi o despertar para as dores do afeto. Afeto dói. Afeto é ruptura, é divisão. É o contrário também. Eu comecei a olhar para isto, para os atravessamentos, para os urdumes e tramas e vieses. Queremos uma parte, damos uma parte, e nas inconsistências deste cálculo, as vísceras caem pelo piso. Se a diabete psíquica não domina, as cicatrizações são ligeiras, os corpos se rejuntam. Estes momentos despertam memórias, nos questiona, requerem olhar para o corpo, para o que nos acode”.
Das dores pessoais e de seu processo criativo, Elinaldo Meira recorreu a pequenos aprendizados sobre fios e linhas para propor a sua utopia plástica. “Andei a olhar teares, e a pensar sobre como isto poderia dizer das nossas cicatrizes. Depois me veio a viola, instrumento que me acompanha por anos, ainda que não tenha desenvolvido um aprendizado maior, mas que nestas dores do afeto me ajudou a bordar o tempo ao acompanhar a formação de cada dor acomodada”. Em “Para aquilo que se tece”, diz Meira, os fios pela sala são as extensões das cordas da viola, instrumento presente na vida do artista, nas pesquisas, e sobretudo, no que diz, ser o instrumento o som de um dentro, “dos meus interiores” sejam os pessoais ou geográficos. Na exposição, um dos instrumentos na instalação é a viola amarantina, de referência antiga, luso, que registra o interesse do artista pelas sonoridades e ancestralidades da música realizada com a viola, e que no Brasil está associada às culturas híbridas e sonoras dos interiores.
Prática – Baiano de nascimento, paulista de formação, Elinaldo é professor do curso de Artes da Universidade Federal de Goiânia (UFG) desde 2021 e, para essa sua primeira instalação na capital goiana, traz elementos da sua formação acadêmica, das andanças pela cultura caipira no interior do Estado de São Paulo e de tantas vivências pessoais trazidas de cada relação, seja amorosa, familiar e no mundo do trabalho e das artes.
Segundo Meira, a escolha pela cor vermelha, a demarcar certas áreas da instalação decorre do interesse pelas festas do divino, assunto no qual se deteve durante a pesquisa de doutorado em Artes realizado na Unicamp. “Difícil querer determinar um caminho que guie o significado da cor vermelha, é um signo para além das particularizações ideológicas; mas, talvez, o vermelho grita por um projeto político do afeto, e que, também, é social, é transcendente, diz de esperança; e assim se, por vezes é alerta para que paremos, é também, para que sigamos com algum fôlego a mais.” Foi diante da obra Espólio, do pintor El Greco (1541 – 1614), que Elinaldo diz ter percebido a força visual da cor vermelha, “os olhos são tomados, e de repente, a cor vermelha elimina o que está ao redor, ela flutua, te chama, te pergunta; vermelho soprou-me utopia, e gosto de vê-la sendo um estado de transcendência como a que paira envolta no Cristo da obra de El Greco”.
Em síntese, “Para aquilo que se tece” quer falar das dores do afeto, que se curam ou se acalentam a partir de novas conexões, harmonizadas em sentidos entrelaçados. “Não construímos uma história que nos afeta apenas em um sentido único. É no atravessar das tantas linhas narrativas que conseguimos criar algo e encontrar um novo sentido para a nossa própria história; tecemos. Assim como um tear, passamos a dar sustentação aos sentimentos, aos fatos que nos constituem; nos fazemos nos atravessamentos do urdume e da trama, enviesamos; a harmonia da forma nem sempre é um bem, e esta configuração expandida, de fios que somos e que projetamos, esticados, soltos, amarrados a outros, adquirindo formas rizomáticas, e que se agarram e sustentam pedaços de corpos e memórias, no ambiente metaforizados pelos instrumentos, é a poética desta exposição; começou comigo e, na sala da exposição, se faz obra coletiva”, complementa o professor da UFG.
“Para aquilo que se tece” tem curadoria de Paulo Henrique Duarte-Feitoza, professor adjunto da área de História da Arte e da Imagem na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás (FAV/UFG). Com acesso gratuito, ficará exposta para visitação até 3 de novembro de 2023.
Elinaldo Meira – Nascido em 29 de março de 1974, em Manoel Vitorino/BA, sertão centro-sul baiano, Elinaldo Meira gradou-se em Letras (Universidade Estadual Paulista, Unesp) e em Artes (Uniclar). Tem mestrado em Estudos Literários (Unesp, 2001), doutorado em Artes (Unicamp, 2009) e pós-doutorados em Estudos Culturais (Universidade Federal do Rio de Janeiro, PACC/UFRJ – 2012, e em Comunicação (Universidade Federal do Ceará, UFC, 2019), do qual resultou o e-book fotográfico Juazeiro das Candeias publicado em fins de 2022. É professor no curso de Artes Visuais – Licenciatura, da FAV/UFG desde 2021. Conheça mais sobre a obra de Elinaldo Meira em https://elinaldomeira.hotglue.me/
Serviços
Para aquilo que se tece, por Elinaldo Meira
Abertura: 17 de outubro, 19h. Grátis. Sem restrição de faixa etária.
Vila Cultural Cora Coralina – Sala Sebastião Barbosa
Rua 3, s/ nº, Setor Central, Goiânia (GO), CEP: 74175-120
Fone: (62) 3201-9863
Mapa: https://goo.gl/maps/HsF1WWtdPyk8Ftp9A
E-mail: vilacultural.coracoralina@goias.gov.br
Instagram: https://www.instagram.com/vilaculturalcc/
Instagram da exposição: @para.aquilo.que.se.tece
Fonte: Caio Albuquerque com diagramação de Renato Cirino
Categorias: Notícias FAV exposição Elinaldo Meira